domingo, 17 de dezembro de 2017

O MOSTEIRO DE SHAOLIN


O Templo Shaolin foi construído em 495 pelo Imperador Xiaoen da Dinastia Wei. Com as invasões e os diferentes problemas políticos, o templo, como qualquer monumento histórico ou objeto de interesse cultural, constituía um alvo a ser destruído.
Durante a sua história, foi várias vezes saqueado, como todas as igrejas de países em guerra, mas nunca foi totalmente destruído, só parcialmente, os seus muros, que, posteriormente, foram reconstruidos. O maior dano infligido ao mosteiro foi, sem dúvida, o incêndio da grande biblioteca, com a perda de exemplares únicos.
Na imagem, vê-se o mosteiro de Shaolin, tal como está hoje. Trata-se, portanto, de um templo budista do “pequeno bosque”, fundado, segundo a tradição, em Henan, na China, sobre o monte Songshan.
O monge indiano Bodhidharma aí residiu por volta do ano de 1600, introduzindo os princípios indianos de defesa sem armas, com a finalidade da proteção dos monges do Chan (o zen chinês) dos bandidos.
As técnicas de Shaolin têm duas correntes distintas, sendo a do Norte designada Shaolin e a do Sul, Taiji Quan.
Estes sistemas de luta com as mãos vazias foram mantidos secretos durante séculos, pelos monges budistas. O seu ensino compreendia dois aspetos, o interno (Neijia) que se destinava ao treino da resistência muscular e o externo (Waijia), que consistia em movimentos suaves de avanço e recuo, controlando a respiração.
No século XVIII, foram criadas cinco grandes escolas provenientes de Shaolin, chamadas, em cantonês Hung-gar, Mo-gar, Choi-gar e Li-gar, que rapidamente, elaboraram estilos procedentes de diferentes mosteiros, entre os quais os de E-nei-shan, Wu-tang, Fujian, Guang-dong e Henan, segundo os nomes das províncias ou cidades onde se desenvolveram.
Para chegar a ser monge guerreiro da Ordem do Templo de Shaolin, eram necessárias as mesmas condições que para qualquer outra ordem budista, ou seja, seguir o nobre trilho do Buda.
Aqueles que se dedicavam ao caminho das armas, deviam possuir uma personalidade sólida, um corpo ágil e forte, uma mente incorruptível e uma vontade de ferro. Para estes, a desonra, a traição e a falsidade eram faltas que, a existirem, os afastariam para sempre do caminho do guerreiro.

Os mestres do templo obedeciam a uma série de regras muito específicas, na escolha justa das pessoas adequadas que, posteriormente, receberiam os verdadeiros conhecimentos de Shaolin:

Primeira regra: logo de início, as capacidades psicológicas dos discípulos “Monzo” eram cuidadosamente observadas, controladas e medidas. Avareza, orgulho, egoísmo, e ira constituíam limitações do comportamento que, sem saber, os aspirantes deviam superar, nas situações que os mestres, habilidosamente, lhes apresentavam.
Por este meio, eram afastados mais de 75% dos discípulos, a quem, apesar disso, também continuavam a ensinar, sem que eles soubessem que jamais alcançariam o verdadeiro Kung-Fu do Mosteiro. Assim, eram selecionados os psicologicamente mais fortes.

Segunda regra: superada a barreira psicológica, era preciso passar a prova física. Os aspirantes eram obrigados a realizar séries de exercícios que superavam em muito o que normalmente pode ser exigido a um homem vulgar, levava-os ao limite do que a natureza humana pode aguentar em esforço físico. Assim, eram selecionados os fisicamente mais fortes.

Terceira regra: era implementada durante a aprendizagem dos movimentos próprios das Artes Marciais. Escolhiam os alunos capazes de perceber , captar rapidamente as explicações , realizar os exercícios ensinados pelos mestres, de uma maneira imediata, mostrando também estar na posse de uma boa memória. Desta maneira, eram escolhidos aqueles que possuíam uma capacidade superior de visualização, coordenação e domínio dimensional do seu corpo em relação ao espaço.

Quarta regra: chegados a este nível, os alunos iniciavam os treinos de combate. Tais práticas eram realizadas sem nenhum tipo de proteção, tanto tratando-se de luta corpo a corpo com as mãos vazias, como de combate com armas curtas ou compridas, tais como espadas, facas, lanças, etc.
Eram identificados os guerreiros que mostrassem uma total ausência de medo e um completo desapego pela vida, como determinava o Buda.
Eram assim selecionados aqueles que geneticamente, possuíam uma grande capacidade e habilidade especiais para aprender e praticar Kung-Fu.

Quinta regra: quando os praticantes já contavam com um domínio elevado, o mestre treinava entre eles os melhores lutadores, para que os combates chegassem a ser quase sangrentos, incentivando assim, a coragem combativa de ambos os lutadores. Desta maneira, os combates eram cada vez mais violentos, o que obrigava a realizar movimentos de defesa cada vez mais eficazes , ao mesmo tempo, fazia aflorar os sentimentos mais primários de sobrevivência. Nesta fase, o lutador que mantinha a sua condição de monge, de homem nobre, de ser humano, perante tão comprometedora e difícil situação, aquele que mostrava não ter perdido o seu auto domínio, era, finalmente, selecionado.
E assim eram escolhidos os que, após tantos anos de duro e intenso treino de Kung-Fu ,não se tornaram lutadores desumanos e loucos. Eram aqueles que continuavam a respeitar e observar os ensinamentos do Buda. Aqueles que tinham alcançado o Zen.
Nestas regras, estavam ocultos os verdadeiros conhecimentos das Artes Marciais de Shaolin. De acordo com o código de honra dos monges Shaolin, o Kung-Fu só deve ser utilizado quando a vida corre perigo.
Entretanto, muitos eram os que não chegavam a superar algumas das etapas da aprendizagem, obrigatórias para todos os alunos. Também eram numerosos, aqueles que continuavam a praticar Shaolin Kung--Fu, ignorando que tinham ficado pelo caminho; finalizados os doze anos de aprendizagem, abandonavam o Mosteiro como se fossem autênticos especialistas, crentes de ter alcançado o título de Guerreiro Shaolin. Mas o verdadeiro saber do Templo estava zelosamente guardado e protegido pelos mestres, e estes impediam que pessoas que pudessem utilizar mal os conhecimentos, tivessem acesso aos segredos de Shaolin.
Os diferentes estilos de Kung-Fu da China, assim como muitos dos sistemas de combate de outros países asiáticos, como o Japão ou a Coreia, surgiram praticamente a partir de Shaolin, como reflexo da poderosa máquina de guerra que, durante séculos, foi este Mosteiro.



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