Conhecido
como “Rei das Pérolas”, Kokicho Mikimoto nasceu na cidade de
Toba, atual província de Mie. A família possuía um pequeno negócio
de udon (esparguete com caldo japonês) sendo o filho mais
velho, estava destinado a continuar com a atividade dos seus
antepassados. Foi apenas na casa dos 30 anos, já casado e com
filhos, que Mikimoto se interessou por pérolas , mais
especificamente pelas experiencias para a criação de pérolas
cultivadas. Contemporâneos de Mikimoto, o biólogo Tokichi Nishikawa
e o carpinteiro Tatsuhei Mise descobriram, um independente do outro,
a base da cultura de pérolas, que era a inserção cirúrgica de um
núcleo de metal dentro de uma ostra, para que ela forme uma pérola
com a lenta liberação de uma secreção que cobrirá o núcleo.
Nessa época (final do século XIX), embora se conhecesse a base do
processo que forma a pérola dentro de uma ostra, não havia um
processo que efetivamente permitisse o cultivo de pérolas de
qualidade em quantidade.
Determinado
a criar o processo de cultivo propriamente dito, Mikimoto fez
experiencias durante anos, para encontrar desde o material mais
adequado para o núcleo até o local mais adequado para as ostras
ficarem no mar. Na base da tentativa e erro, ele usou de tudo: areia,
barro, madeira, vidro e metais como núcleos. Perdeu anos de trabalho
com a praga da maré vermelha, uma doença que mata ostras aos
milhões. Endividado, Mikimoto chegou a ter de ir trabalhar em
Hokkaido para ter dinheiro.
Tanta
obstinação gerou frutos. Mikimoto acabou obtendo os melhores
resultados com ostras enxertadas com núcleos feitos de conchas de
mariscos americanos, e na costa de Toba encontrou o melhor local para
o longo repouso das ostras, que precisam estar vivas para produzir
pérolas. A primeira “colheita” de Mikimoto foi de cinco pérolas
de boa qualidade para 800 mil ostras enxertadas, ainda assim uma
média mais alta que a natural, de uma pérola para cada milhão de
ostras.
Mikimoto
abriu a sua empresa em 1893. Além de aperfeiçoar o cultivo de
pérolas, ele investiu no ramo joalheiro, enviando funcionários à
Europa para aprenderem a confecção e design de jóias. Em 1907,
Mikimoto abriu a sua primeira joalheria em Tokyo, e em 1911, a
primeira filial no exterior, em Londres. Hábil homem de marketing,
Mikimoto promoveu as pérolas japonesas no exterior expondo grandes
estruturas, como a réplica do Sino da Liberdade dos Estados Unidos,
e representando personalidades com as suas criações, como o
inventor Thomas Edson. Mikimoto cunhou a frase “meu sonho é
colocar um colar de pérolas no pescoço de cada mulher deste mundo”.
Antes
da Segunda Guerra, Mikimoto possuía filiais em Londres, Nova York,
Los Angeles, Xangai, Bombaim e Paris. Com a Guerra, foi obrigado a
fechar as filiais e nos duros tempos de reconstrução, mesmo com
idade avançada, voltou a enxertar e cuidar das ostras com as
suas próprias mãos. Em 1954, Mikimoto faleceu aos 96 anos, tendo
reerguido a indústria das pérolas que ele mesmo criou. A esposa,
Ume Mikimoto, sua principal colaboradora e mãe dos seus cinco
filhos, faleceu antes de ver o sucesso do marido. Além de trabalhar,
cuidar da casa e da família, Ume participou ativamente do longo e
complexo cultivo de ostras, fato este que Mikimoto fez questão de
lembrar divulgar durante toda a sua vida.
Mikimoto
é um divisor de águas no que se refere a pérolas. Com ele,
criou-se efetivamente a pérola cultivada, o que tornou uma jóia
rara acessível no mundo inteiro, embora as pérolas continuem a ser
caras e belas. Atualmente, todas as jóias adornadas com pérolas são
do tipo cultivado e embora haja hoje pérolas cultivadas de outras
partes do mundo, Mikimoto tornou a pérola um sinonimo de Japão.
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