sábado, 26 de maio de 2018

HISTÓRIA DO KIMONO - KARATEGI


A foto do lado esquerdo mostra os yakko acompanhando o daimyo. A foto do lado direito mostra o happi, vestimenta característica de alguns festivais japoneses.


Não há nada mais icônico para o karatê que um kimono branco com uma faixa preta. Habitualmente chamado de karategi (gi, flexão de ki, , roupa) ou keikogi (keiko, 稽古, treino), o uso desta vestimenta nem sempre acompanhou o karateka na sua história, é algo bastante atual, mas que teve uma influência antiga.

No livro O Dojo, de Dave Lowry, há o histórico do desenvolvimento do kimono marcial. Tudo começou durante o Sengoku Jidai, a guerra civil que se iniciou no século XV e que durou séculos no Japão,  fazendo com que o algodão fosse introduzido no Japão pela Coréia e pela China. Essa importação causou uma revolução na economia japonesa pela sua facilidade de cultivo e fabrico dos tecidos. 

No século XIX, Jigoro Kano (1860-1938), o educador e fundador do judô Kodokan foi responsável pela difusão e transformação do keikogi. Acreditava que a sua inspiração veio das vestimentas pesadas utilizadas pelos bombeiros japoneses, as quais foram inspiradas nas roupas usadas pelos yakko (criados, valetes que acompanhavam o daimyo ou samurai de alta patente. Carregavam bandeiras e mastros decorados para mostrar o status do clã). As vestimentas dos bombeiros, chamadas hanten ficavam pela cintura, mais longas que as dos yakko
Há algumas fotografias de Kano e dos seus alunos com este tipo de vestimenta, conhecidas como uwagi, que se parecem muito com o hanten utilizado pelos bombeiros. Tinham a bainha da roupa no nível das nádegas e as mangas curtas que posteriormente se alongaram até ao antebraço para evitar magoarem-se no cotovelos, causado pelo tatame, juntamente com a bainha que ficou mais longa também.

Nessa época, o karatê em Okinawa era praticado apenas com tangas devida á humidade e calor típica da ilha. Os japoneses consideravam os praticantes de karatê uns desordeiros . Então, para esta arte marcial ser bem recebida pelo resto do país, era necessário uma roupagem adequada. Gichin Funakoshi, fundador da Shotokan, aparece vestindo judogi com os seus alunos numa foto de 1930. Quando o karatê passou a desenvolver-se mais e a criar a sua própria identidade, o keikogi também se adaptou as necessidades das técnicas, tornando-se mais leve utilizando o algodão.

A cor tradicional é branco por ser a cor natural do algodão, por ser económico e refletir espírito de simplicidade e naturalidade, o qual combina com os ensinamentos do budo.

Mestre Jigoro Kano

As calças foram adicionas posteriormente, após a Segunda Guerra Mundial. Em japonês, calça é zubon e só foi adicionada ao vocabulário após o período feudal, no Japão pré-moderno, pois os homens não vestiam nada abaixo da cintura - apenas um tapa-sexo ou o hakama. Novamente é Jigoro Kano que faz com que calça se torne parte do keikogi, já que os judocas assim como os praticantes de outras artes marciais usavam o hakama ou nada nos treinos. No início, era o gobatake, um shorts largo que ia até a coxa, mas provavelmente Jigoro Kano achou que calças mais compridas protegeriam os judocas de lesões.
Eles têm um único cordão, que é passado pela frente da cintura através de um passador no cós, que dá a volta sobre si mesmo nas costas e passa novamente pela frente. E é fechado ao se puxar as pontas do cordão, que têm nós para evitar que voltem para dentro do cós” (Dave Lowry)

Motobu Choki, mestre de karatê e suas calças de kimono curtas
keikogi não é uma das roupas mais confortáveis e para um iniciante nas artes marciais parece que atrapalha e deixa os movimentos mais presos. Porém, com o tempo o corpo adapta-se aos movimentos do keikogi e o karateca começa a perceber que praticar arte marcial sem ele definitivamente não é a mesma coisa. Os movimentos ficam mais bonitos, mais fortes e até a sua figura fica mais austera. Arte marcial é superação até quando se trata do próprio uniforme. O karateca aguenta o peso do tecido e a temperatura, para que, independente da roupa que tenha vestido,  possa dar o seu melhor.



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