domingo, 13 de setembro de 2020

SIGNIFICADO DAS CORES NA CULTURA JAPONESA (1)

 

A sociedade japonesa detém tradições antigas que moldaram os japoneses durante milênios. No caso das cores, têm associações simbólicas que aparecem na arquitetura, nas artes, nos rituais japoneses e nas roupas. Atualmente, alguns dos significados tradicionais das cores, ainda se mantêm.

Há muitas cores que são consideradas auspiciosas pelos japoneses. Outras, consideram-nas importantes em casamentos e noutros rituais. Existem muitas regras intemporais associadas ás cores do quimono.

Vermelho – Aka ()

O vermelho é chamado “Aka”. A cor vermelha tem grande presença na cultura tradicional japonesa, desde a antiguidade até hoje. A referência mais imediata é a bandeira do país, chamada Hinomaru. O círculo vermelho representa o Sol. A combinação do vermelho e branco é tida como boa sorte.

As noivas vestem vermelho no dia do casamento, utilizam envelopes vermelhos com dinheiro, que são dados em ocasiões especiais como casamentos, nascimentos de bebés e celebrações de Ano Novo. A cor vermelha é considerada uma cor comemorativa.

Aproximadamente no século VI, o vermelho, já representava muito no quotidiano dos japoneses. Na época, a cor era relacionada com as doenças. Contudo, com o tempo, passou a ser associada como proteção contra doenças e maus espíritos.

O vermelho também está relacionado com a proteção das crianças. “Akachan”, palavra japonesa para bebê, é formada pelo ideograma da cor vermelha akai. No Japão, as estátuas de JizoBosatsu, são protetoras das grávidas, recém-nascidos, crianças que geralmente usam gorros, casacos ou cachecóis vermelhos.

 

Construções religiosas, tanto budistas como xintoístas, frequentemente utilizam o vermelho. Por exemplo, o torii (portal), quando de madeira, é pintado de vermelho, como sinal de proteção. No folclore japonês, figuras como o Tengu e o Daruma, são geralmente vermelhos.

Curiosamente, os personagens principais de muitos desenhos animados e séries, usam roupas ou robôs vermelhos, assim como a maioria dos logotipos de empresas japonesas.

Os japoneses usam muito o inkan, carimbo com o ideograma da família, que funciona como a assinatura em documentos. Tradicionalmente, utiliza-se uma almofada com tinta vermelha.

Durante as guerras civis japonesas (1467-1568), o vermelho era usado pelos samurais como símbolo de força e poder na batalha. Foi também usado como maquiagem no Japão muito antes do batom se tornar popular o cártamo era usado como base para os batons.

A louça de barro mais antiga do país (Jomon) e outros utensílios de madeira feitos na mesma época, são pintados com uma laca chamada ‘sekishitsu’. Há muitos tons tradicionais de vermelho no Japão: Shuiiro (vermelhão), akaneiro (vermelho mais intenso), enji (vermelho escuro), karakurenai (vermelho) e Hiiro (cor vemelha muito viva) estão entre eles.

Branco – Shiro ()

Branco tem sido uma cor auspiciosa no Japão durante a maior parte de sua história. Branco representa a pureza e a limpeza na sociedade japonesa tradicional, e é visto como uma cor abençoada. Por causa da sua natureza sagrada, o branco é a cor tradicional de eventos felizes como casamento e nascimento, além de aparecer na bandeira japonesa.

Vermelho e Branco Kouhaku/紅白

 A combinação de vermelho e branco (Kouhaku) é um símbolo para ocasiões especiais ou felizes. As longas cortinas com listras vermelhas e brancas são penduradas em receções de casamento. Mizuhiki, (cordas de papel cerimoniais) nas cores vermelho e branco são usados ​​como ornamentos para casamentos e outras ocasiões importantes.

“Kouhakumanjuu” (pares de bolos de arroz cozido no vapor recheado com feijão doce (azuki) muitas vezes são oferecidos como presentes em casamentos, formaturas e outros eventos comemorativos. O “Hinomaru bento” que se caracteriza por arroz branco com um umeboshi no centro, assemelhando-se à bandeira japonesa.

Preto – Kuro ()

 O preto é chamado kuro em japonês. Tradicionalmente, o preto representa mau agouro, morte, luto, destruição, medo e tristeza. Ornamentos em preto (kuro) e branco (Shiro) são geralmente usadas em funerais.

Por outro lado, o preto também tem sido tradicionalmente uma cor que representa a formalidade e a elegância e especialmente influenciada pela crescente popularidade das concepções ocidentais de eventos blacktie.

O uso mais antigo da cor preta na cultura japonesa foi a tatuagem. Nos tempos antigos, alguns pescadores tinham o hábito de tatuar grandes pássaros ou peixes para se proteger do mal. A partir do período Nara, as tatuagens seriam usadas para marcar criminosos como punição, e desde então as tatuagens, passaram a ser associadas a gângsteres japoneses.

O preto também era usado para maquilhagem desde os tempos antigos. Era usado para pintar sobrancelhas como em muitos outros países, mas o Japão também tinha um costume muito estranho chamado O-haguro onde especialmente as mulheres tingiam os dentes de preto.

O preto também é uma cor importante nas artes japonesas, como a caligrafia e especialmente através do sumi-e, onde o pintor usa apenas tinta preta para fazer belas pinturas.


SIGNIFICADO DAS CORES NA CULTURA JAPONESA (2)

 


Azul – Ao () ou Índigo Ai ()

 Azul também é uma cor que representa a pureza e a limpeza na cultura japonesa tradicional, em grande parte por causa das vastas extensões de água azul que rodeia as ilhas japonesas. Como tal, azul também representa frieza, calma e estabilidade.

Além disso, o azul é considerado uma cor feminina, e assim, em conjunto com a associação com a pureza e limpeza, o azul é muitas vezes uma opção de cor para roupas escolhida por mulheres jovens para mostrar a sua pureza. Como é uma cor tradicional japonesa, tons de azul são usados ​​em quimonos para representar as estações e expressões de moda.

Muitos trabalhadores de escritório usam diferentes tons de azul, enquanto os estudantes universitários vestem peças de roupa nesse tom para entrevistas de emprego.

Já o índigo, é considerado o “azul do Japão”, feito a partir de um corante natural retirado de folhas fermentadas da planta índigo misturada com água. Não era restrito a aristocratas como aconteceu com outras cores. No período Edo (1603 a 1868), todos os tipos de pessoas, comuns a samurais, costumavam usar roupas tingidas de índigo.

Quando os estrangeiros foram autorizados a entrar no Japão durante o período Meiji (1868 a 1912) ficaram surpresos por ver o azul índigo em toda parte do país! Quimono, roupa de cama, toalhas de mão, etc. O povo japonês costumava usá-lo para tudo.

Não foi apenas por causa da moda, mas as roupas tingidas de índigo também têm três benefícios: a fibra torna-se mais forte depois que o índigo morre; tem um efeito repelente de insetos e um efeito protetor UV. Hoje em dia essa cor ainda é muito usada no Japão.

Verde – Midori ()

 O verde é a cor da fertilidade e do crescimento na cultura tradicional japonesa. Como a cor da natureza, a palavra japonesa para verde, midori, também é a palavra usada para vegetação. Além disso, a cor verde representa energia, juventude e vitalidade.

O verde também pode representar a eternidade, uma vez que as árvores perenes nunca perdem as suas folhas ou param de crescer. Trazer a cor verde para a decoração da casa é visto como se estivéssemos adicionando a natureza para dentro dela.

Além disso, no Japão existe uma data especial, Midori-no-hi (Dia do Verde) no dia 4 de maio, durante o Golden Week. É o dia de celebrar a natureza. As famílias costumam passear ou participar de eventos destinados a esse dia em Parques e Jardins públicos.

O verde também é muito popular nas roupas, pois traz a sensação de frescura. Chá, especialmente matcha e chá verde são ambos de cor verde. Após a preparação as folhas de chá são verdes também. O chá é muito importante na cultura japonesa.

Roxo – Murasaki ()

 O roxo é chamado murasaki em japonês. Durante muito tempo no Japão, a generalidade das pessoas, estavam proibidas de usar roupas roxas. A cor roxa raramente era vista dada a dificuldade em a conseguir e por isso o seu preço era elevado. Cor obtida da shigusa que apresentava alguma dificuldade no seu cultivo.

Por este motivo, essa cor, era usada apenas por funcionários superiores e a família Imperial. Quando o budismo chegou ao Japão, os monges que tinham um alto nível de virtude também podiam usar roxo. Em espetáculos de Noh, roxo e branco são frequentemente usados ​​para os figurinos do imperador ou aristocracia japonesa.

No período Heian (794-1185), a cor púrpura passou a ser associada às glicínias. Foi neste período que os funcionários de Fujiwara implementaram um governo de regência. Fuji significa flores de glicínias em japonês, a cor roxa tornou-se sinônimo da classe dominante novamente.

 

Durante o período Edo (1603-1868), a família governante era Tokugawa e o seu símbolo continha a flor de malva, de modo que a púrpura permaneceu associada à nobreza por razões semelhantes.

Porém, o roxo ficou na moda durante o período Edo. As pessoas comuns eram proibidas de usar cores vivas, de modo que as roupas costumavam ter tons de castanho. Na época, os atores do kabuki eram líderes da moda. DanjuroIchikawa usava uma faixa roxa que se tornou na peça mais vendida e assim a cor tornou-se muito popular entre os cidadãos Edo.