Durante o último século do
período Edo, Ino Tadataka, cartógrafo e topógrafo, não apenas soube como se
localizar como foi o primeiro japonês a mapear o Japão utilizando métodos
modernos.
Embora a maioria das cópias
originais dos mapas feitos se tenham perdido entre incêndios e desastres
naturais, uma pequena coleção particular classificada como tesouro nacional
ainda existe.
Nascido em 1745, em
Kujūkuri, uma pequena cidade na antiga província de Kazusa (atual província de
Chiba) era filho de um homem influente.
No entanto, teve uma
infância conturbada após a morte da mãe aos 6 anos de idade. Como o pai tinha o
sobrenome da família da sua esposa foi obrigado a sair da casa. Essa separação
familiar durou quatro anos.
Apesar dos problemas
familiares, era um excelente aluno com aptidões excepcionais para matemática. Observar
as estrelas era o seu passatempo.
Quando
atingiu 17 anos, casou com uma mulher de uma família mercante da região de
Sawara, o clã Inō.
Foi
durante o período em que geriu os negócios familiares que Ino Tadataka fez o
seu primeiro mapa do rio Tone. Foi importante para o controle das enchentes e
para a criação de um sistema de irrigação para a agricultura de toda a região.
O
resultado do seu trabalho foi reconhecido pelo Daimyo local que o concedeu o
direito de possuir uma espada e ter um sobrenome oficial (restrito à
aristocracia japonesa até o período Meiji).
Seus
esforços em administrar os negócios da família, liderar a região (inclusive em
tempos de fome racionando adequadamente as porções de comida a cada família) e
a versatilidade de suas capacidades foram reconhecidos.
Mas
aos 49 decidiu deixar os negócios da família com seu filho e mudou-se para a
antiga Edo (Tokyo) no distrito de Fukagawa.
Uma
vez na futura capital japonesa, Ino transformou a sua casa num observatório. Quando
finalmente se “reformou”, tornou-se aluno do astrónomo mais importante de
Takahashi Yoshitoki.
Essencialmente,
o trabalho de Takahashi era cuidar e rever os calendários japoneses, porque
dominava a astronomia chinesa e ocidental além de outros conhecimentos
naturais.
Graças
aos conhecimentos adquiridos pelo seu tutor, Ino Tadataka começou a tentar
medir o tamanho da terra com técnicas modernas de investigação.
A sua ideia inicial era medir a distância entre o palácio do Shogun
até à sua casa, porém, de forma sucinta o seu mentor Takahashi alertou que a
mediação mínima deveria ir de Edo até a ilha de Ezo em Hokkaido.
O
primeiro trabalho de medição e de mapeamento do Japão utilizando os métodos
mais avançados começaram em 1800.
Aos
55 anos de idade, Ino Tadataka solicitou ao governo do Shogun uma expedição à
ilha Ezo para mapeá-la. Na ocasião era habitada pelos Ainu.
Apesar
do ceticismo do Shogun, a expedição era uma excelente oportunidade para o
governo ficar com um melhor conhecimento da região.
Como
a ilha era um lugar praticamente fora do controle governamental e alvo de
constantes invasões da marinha russa, o Shogun Ienari decidiu integrá-la ao
Japão. Mapeá-la seria a primeira etapa.
O
resultado da pequena equipe liderada por Ino impressionou diversos membros da
burocracia governamental do Japão.
Os
resultados dos mapas eram semelhantes ao do famoso astrónomo francês Jérôme
Lalande, uma referência astronómica do céu japonês da época.
Depois
de mapear a ilha Ezo durante seis meses, o mais importante cartógrafo e topógrafo
da história do Japão, mapeou o norte de Honshu e a parte central da ilha.
Essa
pesquisa levou cerca de três anos para ser concluída. No entanto, o resultado
apresentado ao Shogun Tokugawa Ienari foi tão impressionante e preciso que
Lenari nomeou-o chefe do escritório de mapas.
Até
então, o governo do Japão forneceu uma ajuda financeira praticamente simbólica,
mas após o trabalho em Honshu, Lenari decidiu que a expedição fosse paga pelo
governo central.
Foi então pedido a Tadataka que mapeasse as regiões ocidentais. Um trabalho estimado em 3 anos com uma equipe de especialistas de alto nível.
A
partir de 1805, Ino e a sua equipe mapearam as regiões de Kinki (atual Nara),
Chugoli, ilhas Shikoku, Kyushu e a antiga Edo.
No
total, Inō Tadataka, passou 17 anos da sua vida dedicando-se a mapear o Japão.
Tadataka queria ter participado da expedição ás ilhas Izu, mas a idade avançada
não permitiu.
Nos
seus últimos anos, dedicou todo o seu esforço para fazer um mapa do Japão com
vários outros esboços e mapas de diferentes regiões.
No
entanto, o maior cartógrafo e topógrafo do Japão morreu em 1818 sem ver o seu
trabalho concluído. Alunos seus concluíram o mapa japonês só em 1821.
O
shogunato nunca publicou a obra de Ino Tadataka, no entanto, o seu trabalho foi
fundamental durante o período Meiji para a formação e desenvolvimento do país.
Porém,
por trás dessa mente brilhante, estudiosos afirmam que ele era um homem
extremamente severo e inflexível com outras pessoas. Até os seus filhos foram
renegados por ele.
Mesmo
assim, o cartógrafo é visto atualmente como um grande exemplo para os cidadãos Séniores
do Japão por ter começado a sua segunda carreira aos 55 anos.
De
qualquer forma, Ino Tadataka percorreu milhares de Km por todo o Japão com a mesma disposição de um
jovem, sem ajuda de GPS ou qualquer equipamento eletrónico.
O
seu trabalho possibilitou ao governo japonês, pela primeira vez, compreender o
seu próprio território com um grau de precisão surpreendente.