segunda-feira, 14 de março de 2022

INO TADATAKA - O TOPOGRAFO MAIS IMPORTANTE DO JAPÃO - Período Edo

 

Durante o último século do período Edo, Ino Tadataka, cartógrafo e topógrafo, não apenas soube como se localizar como foi o primeiro japonês a mapear o Japão utilizando métodos modernos.

Embora a maioria das cópias originais dos mapas feitos se tenham perdido entre incêndios e desastres naturais, uma pequena coleção particular classificada como tesouro nacional ainda existe.

Nascido em 1745, em Kujūkuri, uma pequena cidade na antiga província de Kazusa (atual província de Chiba) era filho de um homem influente.

No entanto, teve uma infância conturbada após a morte da mãe aos 6 anos de idade. Como o pai tinha o sobrenome da família da sua esposa foi obrigado a sair da casa. Essa separação familiar durou quatro anos.

Apesar dos problemas familiares, era um excelente aluno com aptidões excepcionais para matemática. Observar as estrelas era o seu passatempo.

Quando atingiu 17 anos, casou com uma mulher de uma família mercante da região de Sawara, o clã Inō.

Foi durante o período em que geriu os negócios familiares que Ino Tadataka fez o seu primeiro mapa do rio Tone. Foi importante para o controle das enchentes e para a criação de um sistema de irrigação para a agricultura de toda a região.

O resultado do seu trabalho foi reconhecido pelo Daimyo local que o concedeu o direito de possuir uma espada e ter um sobrenome oficial (restrito à aristocracia japonesa até o período Meiji).

 Ao ser adotado pelo clã, passou a utilizar os seus conhecimentos para aumentar os negócios da família que sofriam com a decadência de uma má administração.

Seus esforços em administrar os negócios da família, liderar a região (inclusive em tempos de fome racionando adequadamente as porções de comida a cada família) e a versatilidade de suas capacidades foram reconhecidos.

Mas aos 49 decidiu deixar os negócios da família com seu filho e mudou-se para a antiga Edo (Tokyo) no distrito de Fukagawa.

Uma vez na futura capital japonesa, Ino transformou a sua casa num observatório. Quando finalmente se “reformou”, tornou-se aluno do astrónomo mais importante de Takahashi Yoshitoki.

Essencialmente, o trabalho de Takahashi era cuidar e rever os calendários japoneses, porque dominava a astronomia chinesa e ocidental além de outros conhecimentos naturais.

Graças aos conhecimentos adquiridos pelo seu tutor, Ino Tadataka começou a tentar medir o tamanho da terra com técnicas modernas de investigação.

A sua ideia inicial era medir a distância entre o palácio do Shogun até à sua casa, porém, de forma sucinta o seu mentor Takahashi alertou que a mediação mínima deveria ir de Edo até a ilha de Ezo em Hokkaido.

O primeiro trabalho de medição e de mapeamento do Japão utilizando os métodos mais avançados começaram em 1800.

Aos 55 anos de idade, Ino Tadataka solicitou ao governo do Shogun uma expedição à ilha Ezo para mapeá-la. Na ocasião era habitada pelos Ainu.

Apesar do ceticismo do Shogun, a expedição era uma excelente oportunidade para o governo ficar com um melhor conhecimento da região.

Como a ilha era um lugar praticamente fora do controle governamental e alvo de constantes invasões da marinha russa, o Shogun Ienari decidiu integrá-la ao Japão. Mapeá-la seria a primeira etapa.

O resultado da pequena equipe liderada por Ino impressionou diversos membros da burocracia governamental do Japão.

Os resultados dos mapas eram semelhantes ao do famoso astrónomo francês Jérôme Lalande, uma referência astronómica do céu japonês da época.

Depois de mapear a ilha Ezo durante seis meses, o mais importante cartógrafo e topógrafo da história do Japão, mapeou o norte de Honshu e a parte central da ilha.

Essa pesquisa levou cerca de três anos para ser concluída. No entanto, o resultado apresentado ao Shogun Tokugawa Ienari foi tão impressionante e preciso que Lenari nomeou-o chefe do escritório de mapas.

Até então, o governo do Japão forneceu uma ajuda financeira praticamente simbólica, mas após o trabalho em Honshu, Lenari decidiu que a expedição fosse paga pelo governo central.


Foi então pedido a Tadataka que mapeasse as regiões ocidentais. Um trabalho estimado em 3 anos com uma equipe de especialistas de alto nível.

A partir de 1805, Ino e a sua equipe mapearam as regiões de Kinki (atual Nara), Chugoli, ilhas Shikoku, Kyushu e a antiga Edo.

No total, Inō Tadataka, passou 17 anos da sua vida dedicando-se a mapear o Japão. Tadataka queria ter participado da expedição ás ilhas Izu, mas a idade avançada não permitiu.

Nos seus últimos anos, dedicou todo o seu esforço para fazer um mapa do Japão com vários outros esboços e mapas de diferentes regiões.

No entanto, o maior cartógrafo e topógrafo do Japão morreu em 1818 sem ver o seu trabalho concluído. Alunos seus concluíram o mapa japonês só em 1821.

O shogunato nunca publicou a obra de Ino Tadataka, no entanto, o seu trabalho foi fundamental durante o período Meiji para a formação e desenvolvimento do país.

Porém, por trás dessa mente brilhante, estudiosos afirmam que ele era um homem extremamente severo e inflexível com outras pessoas. Até os seus filhos foram renegados por ele.

Mesmo assim, o cartógrafo é visto atualmente como um grande exemplo para os cidadãos Séniores do Japão por ter começado a sua segunda carreira aos 55 anos.

De qualquer forma, Ino Tadataka percorreu milhares de Km  por todo o Japão com a mesma disposição de um jovem, sem ajuda de GPS ou qualquer equipamento eletrónico.

O seu trabalho possibilitou ao governo japonês, pela primeira vez, compreender o seu próprio território com um grau de precisão surpreendente.