domingo, 26 de novembro de 2017

O HARA E O CORPO

yahara-hangetsu-kata
Quando os orientais estudaram o corpo humano, não se esqueceram que este era a sede dos sentimentos e das emoções. Os grandes progressos humanos só são possíveis quando se aprende a relacionar a teoria com a prática da respetiva vida quotidiana.
De acordo com a filosofia Taoísta, o corpo é o Yin (terra) e o espírito Yang (céu). O corpo e o espírito não só se vêem como dois pólos contrários, mas também como qualidades complementares que podem e devem encontrar-se na busca diária da harmonia e do equilíbrio.
Símbolo Yin e Yang
A energia tão necessária à prática das artes marciais é por nós captada e feita circular pelo corpo, sendo condensada, de seguida, no ventre, exatamente na zona por baixo do umbigo, denominada pelos japoneses como o Hara. Ali se encontra o centro vital do homem. Do Hara, retiramos a força e segurança necessárias. Quem mais desenvolveu a consciência do Hara foram os japoneses. A saúde deveria ser o nosso estado natural e permanente o que, infelizmente, não acontece, por múltiplas e variadas razões.
Os erros cometidos em termos de posturas físicas, alimentação, respiração, emoções e pensamentos, resultam em sofrimento causado por doenças mais ou menos graves, que apoquentam a generalidade das pessoas.
No Oriente, o sintoma da doença não é considerado necessariamente como um perigoso inimigo que deve ser derrotado. Pelo contrário, é considerado um sinal útil que o corpo dirige à consciência, para que esta concentre a atenção em algo que haja descuidado. Considerado deste modo, o sintoma converte-se num precioso aliado, assinalando um possível perigo e permitindo assim, evitá-lo ou curá-lo.
Um grande número de doenças e de mal-estar físico são possíveis de curar, simplesmente, assumindo e mantendo uma certa posição durante um determinado tempo. As técnicas de respiração do yoga têm potentes efeitos terapêuticos. O yoga, quando praticado com assiduidade, pode prevenir e curar a hérnia discal, a ciática, as hemorroidas, a obesidade ou a hipertrofia da próstata.

A respiração é uma das funções mais importantes do organismo. Como sabemos, o ato de respirar é composto pela inspiração (enchimento dos pulmões de ar rico em oxigénio, que é indispensável à nossa sobrevivência) e pela expiração (esvaziamento dos pulmões do ar consumido, do qual faz parte o dióxido de carbono). Se os pulmões não se esvaziam completamente com uma expiração prolongada, os resíduos tóxicos produzidos pelo metabolismo permanecem no corpo, contaminando-o.
A alimentação, também de extrema importância, contempla substâncias sólidas e líquidas. Modificando alguns dos nossos hábitos alimentares menos corretos, conseguimos melhores digestões e uma alimentação mais equilibrada, portanto, mais saudável.
Devem introduzir-se pequenas quantidade de comida na boca que deverão ser mastigados lentamente. Os alimentos não devem estar a temperaturas nem muito elevadas nem muito baixas, deverão ser ingeridos mornos. Quando comemos, a nossa mente e o ambiente devem estar calmos, o que facilita a digestão. Devem ser ingeridos primeiros os alimentos crus e, de seguida, os cozidos. As frutas devem ser ingeridas separadamente, pois os sucos gástricos necessários à sua digestão são diferentes dos requeridos por outros alimentos. O pequeno-almoço e o almoço são as refeições em que se deve ingerir maior quantidade de alimentos, dado que o estômago, o baço e o pâncreas estão mais ativos nesses períodos do dia, devendo o jantar constituir uma refeição ligeira. Devemos levantar-nos da mesa sem que tenhamos saciado completamente a nossa fome, deixando um pequeno vazio e permitindo, assim, que o organismo absorva as possíveis substâncias em excesso.






quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O SUMO – LUTA DESPORTIVA COMPETITIVA


Segundo a lenda, a origem da luta Japonesa Sumo ( 相撲 ), remontaria a um combate livre entre dois Kami pela posse do país. Por isso, o Sumo não seria mais do que a comemoração da luta celebrada entre dois chefes inimigos, um provavelmente coreano e outro japonês, nos alvores do período histórico do Japão.
As primeiras lutas de sumo, cuja essência é religiosa (formam parte dos rituais do Shinto para se reconciliarem com os Kami e assim obterem colheitas abundantes), desenrolavam-se na presença do imperador, que residiu inicialmente em Nara e depois, em Kyoto (na época chamada de Heian-Kyo), começaram-se a organizar torneios anuais de Sumo, sendo os lutadores (Sumotori) procedentes de todas as províncias.
Pouco a pouco, foram elaborando as regras para este combate, e na época da supremacia das classes militares, a partir do século XII, o Sumo converteu-se numa arte militar (joran-zumo).
Foi, sobretudo, na época Edo (1603-1868), quando o país estava relativamente em paz, que o Sumo conheceu uma maior expansão, adotando a forma com que hoje o conhecemos.
Os lutadores são, normalmente, muito pesados, chegando alguns a ter mais de 230 Kg, não existindo nenhuma categoria de pesos, podendo um lutador leve enfrentar perfeitamente, um gigante com o dobro do peso. Aqui é tudo uma questão de flexibilidade, rapidez e técnica.

Museu de Sumo Nihon Sumo Kyokai -Cenas do Período Edo Pintadas por Kunisada Kochoro
Para incrementar o seu volume e potência muscular, os “sumotoris” alimentam-se de “chankonabe”, um cozido de carnes e verduras especiais para aumentarem de peso, e recebem massagens para tornar maior o seu estômago e intestinos.
Museu de Sumo Nihon Sumo Kyokai -Cenas do Período Edo Pintadas por Kunisada Kochoro
Os Sumotori combatem descalços e com o tronco nú, vestindo um tapa nádegas (Mae-tate-mitsu) e um largo cinturão de seda ( Mawashi – 廻し ).Usam um penteado à antiga, o chamado Ó-icho-mage ou Chon-mage, segundo a sua categoria.
Dohyo, círculo sagrado, é o estrado em que se desenrolam os combates de sumo, constituído por uma plataforma quadrada de 5 a 7 m de lado, com uma altura de 0,60 m, no centro da qual há uma zona circular de terra batida coberta de areia fina, com 4,55 m de diâmetro, delimitada por uma corda grossa semienterrada.
Os combates entre os sumotori, desenrolam-se no interior do círculo. Quando um dos lutadores cai por terra e toca no solo fora deste círculo, declara-se vencido.

As Cerimónias que antecedem os combates


sábado, 4 de novembro de 2017

CINEASTA JAPONES AKIRA KUROSAWA


Nem sempre a indústria cinematográfica soube retratar, com o mínimo de veracidade, o mundo das artes marciais.
Muitos, terão ficado a detestá-las, umas pelo excesso de violência, outras pela fantasia exagerada presente nos filmes.
Existem películas de ficção, mas é nos filmes históricos que se retrata alguma da verdade das artes marciais, assim como, as gentes e costumes da época, em que a grande rivalidade entre os vários clãs e a luta pelo poder mantinham o país quase em guerra permanente.
De qualquer forma, há que salientar a excelente condição técnica e física de alguns atletas/atores bem como o trabalho dos realizadores, que muito contribuíram para a divulgação e desenvolvimento destas nobres artes.

Akira Kurosawa - 23-03-1910 - 6-09-1998
Entre 1946 a 1950, o cinema japonês atravessou um período de ensaio, tentando novos rumos. Organizou-se a produção então, com cinco companhias, surgindo, por via disso, uma idade de ouro iniciada com o famoso Rashomon (Às Portas do Inferno, de 1951) do então jovem realizador Kurosawa.
É desse ano, o primeiro filme a cores de outro grande realizador japonês K. Hinoshita com o filme “O Regresso de Cármen”.
O advento da televisão, nos anos 60, provocou um rápido declínio do número de frequentadores de cinema e a popularização dos vídeos na década de 1980, levou a uma estabilização desse número num patamar, relativamente baixo, de 150 milhões de espetadores.
O total combinado dos filmes estrangeiros e japoneses exibidos nos anos oitenta foi de 370, com o número dos filmes estrangeiros superando os japoneses na proporção de dois para um.
O cinema japonês, tem hoje, diversas tendências, desde filmes policiais, melodramas, documentários exóticos, comédias para jovens, filmes de Samurais e filmes de ficção científica.
No desenho animado, há obras de muito interesse, tanto no estilo tradicional, como no da animação moderna.
Akira Kurosawa, O “Sensei do Cinema” ou “o Imperador” é um grande nome do cinema mundial. Com uma carreira de cinquenta anos, Kurosawa dirigiu 30 filmes. Poeta das imagens, humanista de profunda sensibilidade e técnico consumado. A ele se devem obras-primas como Os Sete Samurais, O Castelo da Aranha, A Fortaleza Escondida, Yojimbo, Barba Ruiva, etc.
Em 1989 foi premiado com um Oscar pelo conjunto da sua obra "pelas realizações cinematográficas que têm inspirado, encantado, enriquecido o entretido do público e influenciado cineastas de todo o mundo".
Enquanto estava a finalizar a sua obra em 1995, Kurosawa escorregou e partiu a base da coluna. Depois do acidente, passou a movimentar-se numa cadeira de rodas até ao final de vida.
Assinatura de Akira Kurosawa no Ueno Park em Tokyo
Depois do acidente , a saúde de Kurosawa começou a se deteriorar. Enquanto a sua mente continuava viva, o seu corpo ia desistindo. Nos últimos seis meses de vida, Kurasawa ficou praticamente confinado à sua cama, ouvindo música e assistindo televisão em casa. Em 6 de setembro de 1998, Kurosawa morreu com 88 anos de idade. Foi sepultado no Anyo-jy Temple Cemetery, Kamakura, Kanagawa no Japão.

Rashomon (1950)

Ikiru (1952)

Seven Samurai (1954)

Throne of Blood (1957)

Yojinbo (1961)

Sanjuro (1962)

Dersu Uzala (1974)

Kagemusha (1980)

Ran (1985)