Em 1600, o general Ieyasu Tokugawa derrotou o
último de seus oponentes e autodeclarou-se soberano de todo o país.
"As diferentes províncias que compunham o Japão, que antes combatiam entre si, foram unificadas, permitindo concentrar esforços, tornando-as prósperas, desenvolvendo as artes da paz", conta o livro "Women of the pleasure quarters - the secret history of the geisha", da jornalista inglesa Lesley Downer. Para ela, isso foi o começo de um extraordinário "Renascimento Japonês". "É nesse ambiente de requinte cultural, em que artes como o Ikebana e a Cerimônia do Chá foram consolidados e o entretenimento mais sofisticado, surgem as gueixas", explica Luís Massahiro Hanada, que foi secretário-geral da Aliança Cultural Brasil-Japão até 1997.
Ao contrário do que vulgarmente se pensa, as
gueixas (guei= arte e xa= pessoa), não são mulheres volúveis ou de costumes
livres. São mulheres que entretêm homens e mulheres, nos banquetes, ou em
refeições de pequenos grupos.
No final do século XVI, a samisen (viola) foi
introduzida, vinda de Okinawa,
com o taiko (tambor), foram os instrumentos dos entretenimentos populares, em
que se distinguiram as taiko joro (cortesãs do tambor).
O século XVII (século de Edo, antiga designação
de Tóquio), passou-se a designar por gueixas, as mulheres peritas nas artes de
conversar, cantar, dançar, na cerimónia do chá, e outras.
De acordo com a enciclopédia japonesa Kodansha,
os primeiros registos do uso da palavra "gueixa" datam de 1751, em
Kyoto, e de 1762, em Edo (atual Tokyo).
Estas mulheres usam um penteado (mage) e quimonos mais vistosos. A sua aprendizagem inicia-se aos cinco anos. As mais novas ou aprendizes, chamam-se maiko (em Quioto) ou hangyku (em Tóquio). As gueixas mais famosas são as dos restaurantes dos bairros de Pontoco (em Quioto) e Ximbáxi (em Tóquio), que se exibem para o público em geral, uma vez por ano, como no Miyako Odori, em Quioto.
Arte do entretenimento
No início, "gueixa” referia-se aos homens que exerciam a atividades do entretenimento (também eram chamados de hokan ou taikomochi). Só com o passar do tempo é que a atividade se transformou numa ocupação feminina.
Entre os seus precursores estão as shirabyoshi, que no século 12 eram dançarinas e, eventualmente, amantes de nobres e guerreiros.
No
século XVIII, a atividade de boa parte das gueixas esteve circunscrita aos
chamados "quarteirões do prazer" (yoshiwara), locais onde havia
prostitutas e cortesãs e que eram permitidos pelo governo.
As
gueixas não eram prostitutas, faziam parte de um grupo à parte cuja função era
oferecer entretenimento, por meio da dança e da música, às cortesãs e aos seus
convidados. Eram claramente orientadas por a lei não permitir serviços sexuais.
Porém, o fato de o governo ter publicado várias leis com a mesma proibição, em
intervalos de aproximadamente 20 anos, pode ser um indício de que essa
proibição nem sempre era respeitada.
Confidentes do poder
Desde
o final do Era Tokugawa, as gueixas estiveram ligadas aos poderosos. Os
samurais precursores da Restauração Meiji (que se iniciou em 1868), por
exemplo, encontraram nas casas de chá (ocha-ya) de Kyoto um local apropriado e
insuspeito para as discussões e planos políticos. Hoje, é comum que líderes do
Partido Liberal Democrata (PLD, a principal agremiação política do Japão),
promovam reuniões e negociações, protegidos pela discrição das casas de chá ou
de sofisticados restaurantes (ryotei) de Tokyo, num ambiente descontraído e,
eventualmente, regado a goles de saquê.