domingo, 21 de março de 2021

GUEIXA (2)

 

As gueixas surgiram durante a Era Tokugawa (1600-1868), quando o Japão conheceu um período de estabilidade política, crescimento económico e prosperidade cultural. Essa era, também conhecida como Período Edo, tornou-se possível após o fim de mais de quatro séculos de guerras internas e com a ascensão do xogunato.

Em 1600, o general Ieyasu Tokugawa derrotou o último de seus oponentes e autodeclarou-se soberano de todo o país.

"As diferentes províncias que compunham o Japão, que antes combatiam entre si, foram unificadas, permitindo concentrar esforços, tornando-as prósperas, desenvolvendo as artes da paz", conta o livro "Women of the pleasure quarters - the secret history of the geisha", da jornalista inglesa Lesley Downer. Para ela, isso foi o começo de um extraordinário "Renascimento Japonês". "É nesse ambiente de requinte cultural, em que artes como o Ikebana e a Cerimônia do Chá foram consolidados e o entretenimento mais sofisticado, surgem as gueixas", explica Luís Massahiro Hanada, que foi secretário-geral da Aliança Cultural Brasil-Japão até 1997.

Ao contrário do que vulgarmente se pensa, as gueixas (guei= arte e xa= pessoa), não são mulheres volúveis ou de costumes livres. São mulheres que entretêm homens e mulheres, nos banquetes, ou em refeições de pequenos grupos.

No final do século XVI, a samisen (viola) foi introduzida, vinda de Okinawa, com o taiko (tambor), foram os instrumentos dos entretenimentos populares, em que se distinguiram as taiko joro (cortesãs do tambor).

O século XVII (século de Edo, antiga designação de Tóquio), passou-se a designar por gueixas, as mulheres peritas nas artes de conversar, cantar, dançar, na cerimónia do chá, e outras.

De acordo com a enciclopédia japonesa Kodansha, os primeiros registos do uso da palavra "gueixa" datam de 1751, em Kyoto, e de 1762, em Edo (atual Tokyo).

Estas mulheres usam um penteado (mage) e quimonos mais vistosos. A sua aprendizagem inicia-se aos cinco anos. As mais novas ou aprendizes, chamam-se maiko (em Quioto) ou hangyku (em Tóquio). As gueixas mais famosas são as dos restaurantes dos bairros de Pontoco (em Quioto) e Ximbáxi (em Tóquio), que se exibem para o público em geral, uma vez por ano, como no Miyako Odori, em Quioto.

Arte do entretenimento

No início, "gueixa” referia-se aos homens que exerciam a atividades do entretenimento (também eram chamados de hokan ou taikomochi). Só com o passar do tempo é que a atividade se transformou numa ocupação feminina.

Entre os seus precursores estão as shirabyoshi, que no século 12 eram dançarinas e, eventualmente, amantes de nobres e guerreiros.

No século XVIII, a atividade de boa parte das gueixas esteve circunscrita aos chamados "quarteirões do prazer" (yoshiwara), locais onde havia prostitutas e cortesãs e que eram permitidos pelo governo.

As gueixas não eram prostitutas, faziam parte de um grupo à parte cuja função era oferecer entretenimento, por meio da dança e da música, às cortesãs e aos seus convidados. Eram claramente orientadas por a lei não permitir serviços sexuais. Porém, o fato de o governo ter publicado várias leis com a mesma proibição, em intervalos de aproximadamente 20 anos, pode ser um indício de que essa proibição nem sempre era respeitada.

 Cultura urbana

 Além das gueixas, que trabalhavam nos yoshiwara, havia as que atuavam em outras áreas das cidades de Kyoto e Tokyo. Essas áreas acabaram por se tornarem centros de uma cultura urbana sofisticada, com destaque especial para as gueixas (o atual bairro de Gion, em Kyoto, foi uma dessas primeiras áreas). Como consequência dessa sofisticação, as gueixas serviram de inspiração para a literatura, a música e a pintura do início do século XIX. 


Confidentes do poder

Desde o final do Era Tokugawa, as gueixas estiveram ligadas aos poderosos. Os samurais precursores da Restauração Meiji (que se iniciou em 1868), por exemplo, encontraram nas casas de chá (ocha-ya) de Kyoto um local apropriado e insuspeito para as discussões e planos políticos. Hoje, é comum que líderes do Partido Liberal Democrata (PLD, a principal agremiação política do Japão), promovam reuniões e negociações, protegidos pela discrição das casas de chá ou de sofisticados restaurantes (ryotei) de Tokyo, num ambiente descontraído e, eventualmente, regado a goles de saquê.




 

 

 

 

 


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