Desde os primórdios, as mulheres japonesas (amas) mergulham no mar em busca de ostras, pérolas e outros frutos do mar. Durante milénios essa prática foi conduzida nas águas geladas do Pacífico sem o uso de quaisquer equipamentos considerados adequados.
Os trajes resumiam-se a uma tanga de tenugui, uma corda amarrada próximo ao quadril e mais tarde uma máscara.
Apesar do frio, as mulheres do mar (ama) realizavam esse trabalho seminuas. Se elas utilizassem outro tipo de vestuário, além do peso adicional na água, o frio era maior ao sair.
Após a segunda guerra mundial, a ocidentalização do Japão e a abertura ao mundo, viram-se obrigadas a vestirem-se devido ao assédio dos turistas estrangeiros.
Apesar da tradição, utilizar roupas de mergulho não alterou significativamente a cultura e a tradição da pesca manual.
Não é fácil ser uma ama no século XXI. De acordo com o Museu Marítimo de Toba, em 2017 existiam apenas 660 amas japonesas em todo o Japão, metade delas trabalham em Toba na província de Mie.
As amas (mulheres do mar) das novas gerações herdam a missão e os desafios de manter a tradição milenar viva. Essas mulheres, conhecidas como sereias japonesas, mergulham no mar e pescam com as próprias mãos.
De todos os frutos do mar, o mais procurado (e atualmente o mais protegido) são os abalones, uma espécie de ostra que produz belas pérolas.
Além das poucas profissionais, os recursos naturais também estão a esgotar-se devido à pesca predatória das grandes empresas.
Afinal, essas mulheres, dependem do seu fôlego e das condições climáticas, por isso, a quantidade que elas pescavam não ameaçava a vida marinha já que se limitavam a mergulhar em média apenas três horas.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca, o volume de abalone vem diminuindo drasticamente nos últimos anos. No auge da pesca desse pequeno animal em 1966 foram retirados do mar 750 toneladas.
Já em 2015 o número caiu drasticamente para 45 toneladas. Para Aiko Ono de 40 anos, fotógrafa profissional e uma das mais novas sereias do Japão, é preciso conservar os abalones para que a cultura não morra.
Embora Aiko seja apaixonada por mergulho no mar e pela pesca manual, ela e suas companheiras estão apanhando muito menos do que poderiam.
Hoje em dia, não se trata apenas de dinheiro. Para a nova geração de mulheres como Aiko Ono e a ex engenheira de sistemas Megumi Kodera de 37 anos, manter a tradição milenar tornou-se uma missão.
Com um número tão restrito de mulheres do mar, tornaram numa pequena comunidade interdependente. Além disso, as mudanças climáticas e o aquecimento dos mares, tornaram-se em grandes desafios para manter o delicado equilíbrio da vida marinha.
Além da missão de manter as amas vivas, fazendo jus à sua história,desejam que surjam novas sereias japonesas, que vivam da pesca artesanal em declínio, mantendo a economia local tradicional de forma não predatória.
Sem comentários:
Enviar um comentário